"- Sim, as pessoas têm pressa, mas depois não se queixem. A fotografia apenas capta um instante do fotografado. Ficam impressas na chapa as dores de barriga, as brigas de ontem com as esposas e as queimações da bexiga. O retrato pintado, pela observação demorada que o pintor faz do carácter do retratado, só esse modelo reproduz toda a verdadeira psicologia do modelo. - Enfim lembrava-se dos juízos de René La Grange. E dissera o maior argumento de sua vida.
Carducci admirava-se. O bigode caía nos cantos da boca.
- Parabéns! O senhor é um livro falante. Mas responda-me: isso não é mentir?
- Ao contrário, é ser fiel à alma do retratado.
O fotógrafo piscava os olhinhos, na sombra do chapéu de feltro. Havia uma luz de malícia quando disse:
- Mesmo que ele seja um bandido, um assassino?
- Por que não? - respondeu Sandro, sem a menor certeza."
Luiz Antônio de Assis Brasil, O Pintor de Retratos, Porto: Âmbar, 2001, pp. 74-75.
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