Wednesday, December 9, 2009

O DIA, PARTINDO-SE


"o dia fez-se morte ao lusco-fusco,
já se ouve mais distante o realejo
que cruzava agonias e desejo
em pobres melodias, já mais brusco

chega o inverno entre ulmeiros pálidos
e sobressalta o corpo às raparigas
que vão morrer. ó meu amor, não digas
outros silêncios, outros sinais inválidos

para salvá-las, só a canção podia
reanimar seu pobre coração,
dar-lhe em breves momentos algum rumo,

alguma esperança nessa melancolia,
enquanto o som pairasse, mas em vão:
partiu o dia, em cinza, frio e fumo."


Vasco Graça Moura, Antologia dos Sessentas Anos, Porto: Edições Asa, 2002, p. 74.

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