"Uma nobre dúvida se insinua eternamente - se este fim não será a Causa Última do Universo; e se a Natureza existe exteriormente. É uma justificação suficiente dessa Aparência a que chamamos o Mundo, que Deus ensine a mente humana, transformando-a, assim, no receptáculo de um certo número de sensações congruentes a que chamamos Sol e Lua, homem e mulher, casa e trabalho. Na minha extrema impotência em testar a autenticidade do relato dos meus sentidos, em saber se as impressões que me causam correspondem a objectos existentes, que diferença faz se Órion está lá no céu, ou se algum deus pinta a sua imagem no firmamento da alma? Se permanecem idênticos quer as relações entre as partes quer o fim do todo, que importa se a terra e o mar interagem e se há mundos que rodam e se misturam sem número ou fim - profundeza abrindo-se sob profundeza e galáxia equilibrando galáxia, através do espaço absoluto - ou se, sem relações de tempo e espaço, as mesmas aparências se inscrevem na fé inabalável do Homem? Quer a Natureza goze de uma existência substancial sem a mente, quer esteja apenas no seu apocalipse, ela é-me do mesmo modo útil e venerável. Seja o que for, para mim é ideal desde que não possa experimentar a exactidão dos meus sentidos."
Ralph Waldo Emerson, A Natureza, trad. Berta Bustorff Silva, Lisboa: Sinais de Fogo, 2001, pp. 67-68.
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