Friday, February 26, 2010

IMAGENS DE ÁGUA 5




"Sexto Espírito

Habito as trevas da noite.
Na luz da tua magia
Porque me vens torturar?

Sétimo Espírito

Antes da criação, reinava eu
Sobre a estrela que rege o teu destino;
Nunca outro mundo mais puro ou sublime
Nos ares girou na órbita do sol;
Tinha o seu curso livre e regular,
Nenhum mais belo o espaço abrigava.
Quando a hora soou - ei-lo tornado
Massa errante de chamas sem ter forma,
Cometa vagabundo, maldição
Ameaçando o universo inteiro.
Por sua inata força, ia girando,
Sem curso, sem esfera, desregrado,
Disforme na sua luz no firmamento,
Terrível monstro do mais alto céu!
E tu! Nascido sob tal domínio,
Tu, verme desprezível, que me tens
Sujeito a um poder ( que não é teu
e que tu só deténs para seres meu)
Vem descendo por este breve instante,
Onde espíritos fracos se inclinam
E com um ser debatem como tu -
Criatura do Pó, o que pretendes?

Os Sete Espíritos

O oceano, a terra, montes e noite,
O ar, o vento, o astro do destino,
Criatura do Pó, esperam tuas ordens!
Aqui nos tens, espíritos invocados -
Nascido de Mortais, o que nos queres?

Manfredo - O esquecimento quero.

Primeiro Espírito - Esquecer o quê? Ou quem? Porquê?

Manfredo - O que trago comigo. Em mim o podeis ler;
Bem o sabeis - não posso revelar."


Lord Byron, Manfredo, trad. João Almeida Flor, Lisboa: Relógio D'Água, 2002, pp. 31-33.

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