"Vestígios?
Cintilações. Era?, não era. Mas isso já não interessa. Não é tanto encontrar: é o momento do quase reconhecimento. Não é voltar sempre às mesmas coisas. É voltar a uma sensação que está antes disso e que diz: parecia mesmo que, e, afinal, não. (...)
Interessa-lhe o desfasamento? Quando a pessoa não encaixa.
Acho que deve haver sempre qualquer coisinha que não encaixa. Se encaixar completamente, é muito mau sinal. O desajustamento: penso que é bom que as coisas batam certas, mas não completamente. Há pouco estava a falar do meu trabalho como se ele fosse uma fuga ao erro, e não. Nele, há sempre qualquer coisa que não bate certo. Mesmo quando bate certo, como dizia Jorge Luis Borges, há que introduzir o erro à maneira árabe. Para marcar a diferença em relação à divindade. Uma coisa sem erro é pouco interessante.
Assim, percebe-se melhor o seu fascínio pelo jogo e pelo acaso. Esses podem produzir o erro. É o elemento que não se controla.
É bom não controlar tudo. Há pessoas que tentam controlar tudo. Assustam-me imenso."
Jorge Molder, entrevistado por Anabela Mota Ribeiro, in "Molder, modo de usar". Pública, 07-02-10, p. 48.
Cintilações. Era?, não era. Mas isso já não interessa. Não é tanto encontrar: é o momento do quase reconhecimento. Não é voltar sempre às mesmas coisas. É voltar a uma sensação que está antes disso e que diz: parecia mesmo que, e, afinal, não. (...)
Interessa-lhe o desfasamento? Quando a pessoa não encaixa.
Acho que deve haver sempre qualquer coisinha que não encaixa. Se encaixar completamente, é muito mau sinal. O desajustamento: penso que é bom que as coisas batam certas, mas não completamente. Há pouco estava a falar do meu trabalho como se ele fosse uma fuga ao erro, e não. Nele, há sempre qualquer coisa que não bate certo. Mesmo quando bate certo, como dizia Jorge Luis Borges, há que introduzir o erro à maneira árabe. Para marcar a diferença em relação à divindade. Uma coisa sem erro é pouco interessante.
Assim, percebe-se melhor o seu fascínio pelo jogo e pelo acaso. Esses podem produzir o erro. É o elemento que não se controla.
É bom não controlar tudo. Há pessoas que tentam controlar tudo. Assustam-me imenso."
Jorge Molder, entrevistado por Anabela Mota Ribeiro, in "Molder, modo de usar". Pública, 07-02-10, p. 48.
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