"O nascimento de uma vocação artística: deixamos de pertencer ao universo relativamente acolhedor dos mamíferos, não temos mãe que se contraia e tenha dores para nos dar ao Sol. Descobrimo-nos então - aterrados- feitos planta; que tem de raspar as primeiras tenras células de encontro à terra dentro da qual nasceu e cuja crosta lhe cumpre furar a todo o custo para chegar a verde, a árvore. E esta terra portuguesa está numa espécie de grade ressequida; seca que já vem de trás, de longe - perguntem ao Antero e ao Garrett. Ao wagon-dor do Sá Carneiro-Cesariny-Express. Às lágrimas de aguardente do Fernando; à minha mãe Florbela (os remorsos que sinto por ter sido malcriada quando ela me ralhava por me portar bem à mesa ou querer ir cedo para a cama).
Mas sou arrastada para a criação literária por duas razões fundamentais: a infungibilidade da forma estável que poderei dar à parte da vida humana que conheço e o meu desejo de me unir ao Outro. Nenhum contacto humano directo vai tão longe (para mim) como sinto que pode ir o acto de escrever.
Les hommes veulent souvent aimer et ne sauraient y réussir, il cherchent leur défaite sans pouvoir la rencontrer, et, si j'ose ainsi parler, ils sont contraints de demeurer libres."
Nuno Bragança, A Noite e o Riso, Lisboa: ed. TV Guia Editora, 1996, pp. 225-226.
Mas sou arrastada para a criação literária por duas razões fundamentais: a infungibilidade da forma estável que poderei dar à parte da vida humana que conheço e o meu desejo de me unir ao Outro. Nenhum contacto humano directo vai tão longe (para mim) como sinto que pode ir o acto de escrever.
Les hommes veulent souvent aimer et ne sauraient y réussir, il cherchent leur défaite sans pouvoir la rencontrer, et, si j'ose ainsi parler, ils sont contraints de demeurer libres."
Nuno Bragança, A Noite e o Riso, Lisboa: ed. TV Guia Editora, 1996, pp. 225-226.
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