Wednesday, March 30, 2011

AS SUPERSTIÇÕES DE MARIA ADELAIDE


"Uma vez, antes de nos deitarmos, eu queria que se fosse pentear e repartisse o cabelo em bandós, mas ela recusou porque era de noite e não sabia se o pai andava no mar, o que seria mau agoiro. Uma vizinha dos «Fumeiros» [Bairro de Pescadores], andando o marido na lancha, fora da barra, pôs-se a pentear uma noite, e apenas atirava à rua o molhinho de cabelos caídos, vem uma refrega de vento que por pouco não mete a porta dentro. Nesse mesmo instante, o marido caía no mar e por pouco não se afoga...
Também se não devem despejar os cântaros da cantareira quando há em casa algum doente em perigo de vida. As almas, tão depressa largam os corpos, e antes de seguir ao seu destino, precisam de água pronta para se lavar, e preferem a água dos cântaros por serem fundos. Outra mulher, também dos «Fumeiros», estando o marido agonizante, despejou, de propósito, a água que havia em casa, deixando apenas uma gota na bacia do lavatório. Morreu o marido e logo ouviu ruído no quarto do lavatório: foi ver e achou tudo salpicado de água, sem que lá estivesse alguém..."
M. Teixeira-Gomes, Maria Adelaide, 4ª ed., Venda Nova: Bertrand Editora, 1992, p. 30.

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