"Uma vez, antes de nos deitarmos, eu queria que se fosse pentear e repartisse o cabelo em bandós, mas ela recusou porque era de noite e não sabia se o pai andava no mar, o que seria mau agoiro. Uma vizinha dos «Fumeiros» [Bairro de Pescadores], andando o marido na lancha, fora da barra, pôs-se a pentear uma noite, e apenas atirava à rua o molhinho de cabelos caídos, vem uma refrega de vento que por pouco não mete a porta dentro. Nesse mesmo instante, o marido caía no mar e por pouco não se afoga...Também se não devem despejar os cântaros da cantareira quando há em casa algum doente em perigo de vida. As almas, tão depressa largam os corpos, e antes de seguir ao seu destino, precisam de água pronta para se lavar, e preferem a água dos cântaros por serem fundos. Outra mulher, também dos «Fumeiros», estando o marido agonizante, despejou, de propósito, a água que havia em casa, deixando apenas uma gota na bacia do lavatório. Morreu o marido e logo ouviu ruído no quarto do lavatório: foi ver e achou tudo salpicado de água, sem que lá estivesse alguém..."
M. Teixeira-Gomes, Maria Adelaide, 4ª ed., Venda Nova: Bertrand Editora, 1992, p. 30.
No comments:
Post a Comment