"Paredes: vós guardais os resplandores
Daquele próprio Sol que eu n'alma guardo!
Pois que guardais de mi, se eu neles ardo?
Não guardais, acendeis mais meus ardores.
Crecem presos os raios vingadores,
Certo efeito de todo o incêndio tardo.
Que indústria contra o Céu achou resguardo,
Que os estragos, despois, não fez maiores?
De pedras como vós, e mais estreitas,
Os Muros eram, donde a sorte dura
Roubou, para vos dar, minha alegria.
Ora acabai de crer que estais sujeitas
A perderdes, como eu, vossa ventura:
Que eu também, quando a tive, nunca o cria."
D. Francisco Manuel de Melo, Poesias Escolhidas, selecç. José V. de Pina Martins, Lisboa: Editorial Verbo, 1969, p. 30.
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