Tuesday, March 15, 2011

DOS CISMAS 3


"Maria Coroada ensinava àquela corja que o mundo era já muito velho e estava a acabar. Que só na arca da aliança (o lupanar do José Custódio) se podia salvar o género humano, do castigo que lhe estava eminente.
Que não era Deus - como se dizia - que tinha de julgar a humanidade, mas sim o Preste-João das Índias (!)
O juízo final devia ser precedido do bater das asas do Galo-Galarim, e é por isso que nas suas bacanais, quando ele batia as asas, tudo dispersava.
A sala onde representavam os quadros vivos (aos quais davam o nome de mundo transformado) chamavam o paraíso, e era ali que a Maria Coroada celebrava as suas cerimónias, e tinha os seus fingidos êxtases, depois dos quais é que fazia as suas absurdas e estúpidas poesias e sermoas."

Patrício Lusitano [Pinho Leal] e Pantaleão Froilaz [Pedro Ferreira, Abade de Miragaia], Maria Coroada ou o Cisma da Granja do Tedo - verdadeira história da mulher-homem António Custódio das Neves ou Antónia Custódia das Neves, Porto: Tipografia de Manuel José Pereira, 1879 [edição facsimilada da Câmara Municipal de Tabuaço, 1999], p. 39.

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