"E Monelle estendeu-me um castiçal em que ardia um filamento cor-de-rosa.- Toma este archote - disse ela, - e deixa arder. Deixa queimar tudo na terra e no céu. E quebra o castiçal e apaga-o quando tiveres deixado arder tudo, porque nada se deve transmitir.Para que tu sejas o segundo nartecóforo e destruas pelo fogo e que o fogo descido dos céus torne a subir aos céus.E Monelle disse também: Vou falar-te da destruição.
É esta a palavra: destrói, destrói, destrói. Destrói em ti mesmo, destrói à tua volta. Abre lugar para a tua alma e para as outras almas.Destrói todo o bem e todo o mal. Os escombros são iguais.Destrói as antigas habitações dos homens e as antigas habitações das almas; as coisas mortas são espelhos que deformam. Destrói, porque toda a criação provém da destruição.E para haver a bondade superior tem de se aniquilar a bondade inferior. E assim o novo bem surge saturado do mal.E para imaginar uma nova arte, tem de se destruir a arte antiga. E assim a arte nova parece uma espécie de iconoclasia.Porque toda a construção é feita de ruínas, e não há nada novo neste mundo além das formas.Mas temos de destruir as formas."
Marcel Schwob, O livro de Monelle, trad. Helena Moura e José Colaço Barreiros, Lisboa: Teorema, 1994, pp. 12-13.
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