"Nunca Maria Adelaide mostrara tanta caridade como agora; não queria que pobre algum que lhe batesse à porta se fosse embora sem esmola, conquanto alguns, observava, não precisassem de pedir pois eram sustentados pela família. E citou o caso de um tio velho, já cego, que tiveram em casa e que sabia uma oração tão linda, meu belo filho, tão linda! A oração dos martírios do Senhor (Dizia isto com a expressão sentida de funda poesia com que eu, por exemplo, então wagnerista fanático, me poderia referir à mais patética passagem do «Parcifal»). Duma vez que ela estava trabalhando em casa da costureira, mandaram-na à porta a ver quem batia: era o velho tio «pedindo alguma coisinha para matar a fome, porque havia já três dias que não comia nada». Ora não havia ainda senão duas horas que o velho jantara, enchendo-se de «baile de roda»...- «Baile de roda?»- «Nos Fumeiros chamamos assim às papas de milho, porque estão sempre a dançar quando fervem.»"
M. Teixeira-Gomes, Maria Adelaide, 4ª ed., Venda Nova: Bertrand Editora, 1992, pp. 47-48.
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