"No dia em que o Cristianismo triunfou em todo o vasto universo, já no Olimpo não havia Deuses. Pressentindo a sua catástrofe irremediável e temendo as perseguições dos fanáticos, que lhes não perdoariam, desceram à desolação da terra, escondendo-se nos vales solitários, nos lugares despovoados, abrigando-se em cabanas pobres do deserto e vergando os seus corpos, de linhas incorruptíveis, sob os ásperos trabalhos, para viverem. Os que mais adoravam a existência, mesmo com todas as suas amarguras e as suas vilezas, fizeram-se lavradores, cultivaram o trigo, cavaram a vinha, entregaram-se ao labor das colheitas e das vindimas. Os mais tímidos transformaram-se em castanheiros, em carvalhos ou abetos e lá ficaram para sempre à beira dos caminhos, dando sombras perfumadas aos rebanhos e aos zagais."
João Grave, O Último Fauno, 3ª ed., Porto: Lello, 1923, pp. 35-36 (actualiz.).
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