Thursday, April 14, 2011

A MOCIDADE


"E quantas vezes, nos seus anos ilustres, quando ele fazia História, decerto lhe volveriam à memória, como um trecho de mal lembrada melodia, aqueles meses de Verão e de amor romântico, em que a bela Júlia e o jovem Alípio, abafando as suas risadas, faziam no quarto miserável, sob as telhas, a caça aos mosquitos nas paredes e aos percevejos nas frinchas... Ah! bem o têm dito os poetas: a mocidade, como o Sol, tudo esbate e envolve numa vaga névoa de ouro; e os mosquitos que se matam aos vinte anos, numa alcova amada, parecem deliciosos àqueles, que, aos quarenta, dormem sob cortinados de seda, sentindo na rua, junto à porta, o passo respeitoso da sentinela protocolar!"
Eça de Queirós, O Conde d' Abranhos, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 210.

No comments: