"E uma menina esguia e sentimental, de bandós em asas de corvo, que havia instantes olhava Garrett num encantamento, não se pôde conter mais que não dissesse:- O mais feliz é o mais sábio...- Enganam-se vossas excelências, minhas senhoras - concluiu o poeta, cravando os seus olhos verdes na divina marquesa. - O mais feliz é o que tem a coragem de não amar, sendo amado...- O sr. Garrett? - interrompeu maliciosamente a marquesa, compreendendo-lhe a intenção e mordendo o beiço.- Não, minha senhora.- Então o sr. Garrett não é amado? - gemeu tristemente a menina dos bandós pretos.- Mas quando o sou, nunca tenho a coragem de não amar, minha senhora...- Por isso dizem que tem mais coração do que cabeça - sentenciou a baronesa, cujo queixo se desdobrou repentinamente em três refegos de gordura.- Nunca se tem coração demais - objectou o poeta, afastando uma madeixa da cabeleira postiça que lhe tombara sobre a orelha. - O que se pode ter é cabeça de menos...- Cabelo de menos, era o que o sr. Garrett queria dizer..."
Júlio Dantas, A Severa, Porto: Porto Editora, 1994, p. 114.
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