Friday, April 29, 2011

EM MEMÓRIA DA MENINA JUDITH, DEMASIADO GRANDE, DEMASIADO BELA



"E agora? Sinto-me prisioneira
Deixei os prazeres da Terra
E o seu efémero. Toda a alegria morre
Tu és a minha única felicidade,
Senhor

Sob os meus passos A erva foi pisada
A flor em minhas mãos Emurchecida
Em teus prados Quero ser leve
Na tua pradaria meus pés Não deixarão
O menor rasto

Se não fosse o teu amor Como deixar
No vale o rebanho Que me acompanha?
Vou deixá-lo só e Sem pastor
Tu és o único cordeiro Que me arrebanha
A alma

És tu Jesus o cordeiro Que escolhi
Um bem supremo Nada mais me basta
Ter-Te é ter tudo A terra O céu
É ter-me A flor que apanho ó Rei
És tu

Olha pelos meus Olhos o arco-íris
A neve pura a verdura Os vastos horizontes
Olha as ilhas ao longe a seara madura
As borboletas a gaia primavera
Os campos

São teus os navios Que fugiram
Das margens deixando Rastos d'ouro
Teus os festões que ornamentam as Nuvens
Por esse sol que se põe e Desaparece
Em pleno raio

Tua é a Mão que sustenta os Mundos
Em cuja palma crescem as Florestas profundas
Fecundas pelos simples Gestos de teus olhos
Que me seguem com um Olhar de amor
Continuamente

Não serei menos do que a Borboleta
Atraída pela chama que a Chama e inflama
Mais fará o teu amor por mim Atrair-me-á
É nele que quero Dançar até ser
Chama

Ouço já Ouvirei sempre Os sons
Que anunciam essa festa eterna Pedirei
Aos choupos a Harpa muda da sua natureza
Sentar-me-ei perto de ti Unicamente
A ver-te.

Iremos de mãos dadas Ver Maria
Os santos A família dispersa e reunida
Sei que o exílio desta vida tem um fim
Voltar à casa do Pai esse o Único destino
Que te peço."

Thérèse Martin, de Lisieux, O Alto Voo da Cotovia, trad. Maria Gabriela Llansol, Lisboa: Relógio D'Água, 1999, pp. 123-125.

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