"E agora? Sinto-me prisioneira
Deixei os prazeres da Terra
E o seu efémero. Toda a alegria morre
Tu és a minha única felicidade,
Senhor
Sob os meus passos A erva foi pisada
A flor em minhas mãos Emurchecida
Em teus prados Quero ser leve
Na tua pradaria meus pés Não deixarão
O menor rasto
Se não fosse o teu amor Como deixar
No vale o rebanho Que me acompanha?
Vou deixá-lo só e Sem pastor
Tu és o único cordeiro Que me arrebanha
A alma
És tu Jesus o cordeiro Que escolhi
Um bem supremo Nada mais me basta
Ter-Te é ter tudo A terra O céu
É ter-me A flor que apanho ó Rei
És tu
Olha pelos meus Olhos o arco-íris
A neve pura a verdura Os vastos horizontes
Olha as ilhas ao longe a seara madura
As borboletas a gaia primavera
Os campos
São teus os navios Que fugiram
Das margens deixando Rastos d'ouro
Teus os festões que ornamentam as Nuvens
Por esse sol que se põe e Desaparece
Em pleno raio
Tua é a Mão que sustenta os Mundos
Em cuja palma crescem as Florestas profundas
Fecundas pelos simples Gestos de teus olhos
Que me seguem com um Olhar de amor
Continuamente
Não serei menos do que a Borboleta
Atraída pela chama que a Chama e inflama
Mais fará o teu amor por mim Atrair-me-á
É nele que quero Dançar até ser
Chama
Ouço já Ouvirei sempre Os sons
Que anunciam essa festa eterna Pedirei
Aos choupos a Harpa muda da sua natureza
Sentar-me-ei perto de ti Unicamente
A ver-te.
Iremos de mãos dadas Ver Maria
Os santos A família dispersa e reunida
Sei que o exílio desta vida tem um fim
Voltar à casa do Pai esse o Único destino
Que te peço."
Thérèse Martin, de Lisieux, O Alto Voo da Cotovia, trad. Maria Gabriela Llansol, Lisboa: Relógio D'Água, 1999, pp. 123-125.
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