"Gil - Ai mãe! Que é aquilo que eu vejo?!
Eis já que [a] alma se me arranca!
Ora o medo não tem regra...
Lá vem ua cousa negra
junto dua cousa branca!
Foi do demo esta prefia,
e, à fé, que outra me não tome!
Jesus! não pudera home
ter amores como de dia?
Pois eu juro, se não pasmas,
Gil, que outra vez não te afoite!
Eu digo que toda a noite
devem de correr fantasmas...
Ai Deus, como ua é comprida!
E aquela, que traz na mão?
Aquilo é lança ou tição?
Escura da minha vida!
Não é este - oxalá fora! -
o vilão da mula de antes...
São maiores que gigantes!
Destes não escapo eu ora...
Todavia bom será
fazer gesto...
Vulto Negro - Andar, andar!
Vulto Branco - Se não quiser esperar,
vá-se embora!"
D. Francisco Manuel de Melo, O Fidalgo Aprendiz, 5ª ed., Lisboa: Clássica Editora, 1974, pp. 88-89.
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