" - Gostava que me dissesse se há lírios na grande campina que se estende diante de nós. - Não, Gertrudes, os lírios não crescem nestas alturas, onde há, somente, algumas espécies raras. - Nem aqueles que se chamam lírios do campo?- Não há lírios do campo. - Nem mesmo nos arredores de Neuchatel?- Não há lírios do campo. - Então porque diz o Senhor: «Olhai os lírios do campo»?- Havia sem dúvida, no seu tempo, pois que Ele o diz, mas as culturas dos homens fizeram-nos desaparecer. - Lembro-me de que me tem dito frequentemente que a maior necessidade da terra é confiança e amor. Não lhe parece que com um pouco mais de confiança, o homem tornaria a vê-los? Eu, quando oiço esta palavra, asseguro-lhe que os vejo. Vou descrevê-los, quer? Dir-se-iam sinos resplendentes, grandes sinos azuis, cheios do perfume do amor e que o vento da tarde embala. Por que me diz que não os há diante de nós? Eu sinto-os! Vejo a campina cheia deles.- Os lírios não são mais belos do que tu os vês, minha Gertrudes.- Oh!, diga-me que eles não são menos belos!- São tão belos como tu os imaginas."
André Gide, Sinfonia Pastoral, trad. Roberto Ferreira, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 96.
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