"Fora necessário registar a criança sob um nome qualquer, nome escolhido, aliás, com muito propósito. Ficara a chamar-se Maria das Dores em virtude dos grandes sofrimentos atravessados na sua breve existência. O que preocupava as mulheres, sobremaneira, não era a monstruosidade nauseante da morte da criança dentro da panela mas a sua morte sem baptismo. Baptizada tornar-se-ia em mais um anjinho, destinado a uma vida celeste; assim, não passava dum ser sem alma, condenado a errar, eternamente, através do limbo, arrastando atrás de si as secundinas às quais ficara ligado. No limbo não havia nada para além do vazio, da escuridão infinda e dum silêncio sepulcral."
Graça Pina de Morais, Jerónimo e Eulália, Lisboa: Antígona, 2000, p. 118.
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