Friday, September 12, 2014

TEMPLUM



"«Sinto-me ainda um tanto desnorteado. Falou de baralhar e de dar cartas. Portanto jogam; com que fim? Por outro lado, se não está, como parece, muito disposto a morrer, por que motivo, no fim de contas, vem aqui?»«Bem se vê que está desnorteado», replicou Malthus, animando-se pouco a pouco. «Meu caro senhor, este clube é o templo da intoxicação. Se o meu fraco organismo pudesse tolerar mais frequentemente a excitação que isto causa, decerto viria a esta assembleia muito mais vezes. O sentido do dever, adquirido numa vida de valetudinário, em constantes dietas, preserva-me dos excessos, dos quais este é um, - que eu classificarei, se me permite, de última orgia. Todavia a todos experimentei», continuou Malthus, pondo a mão no braço de Geraldine, «todos sem excepção, e declaro-lhe, sob minha palavra de honra, que não achei nenhum que não fosse estúpido e falsamente encarecido. Desperdiçamos o tempo com o amor. Nego que o amor seja uma grande paixão; o medo é que sim, é com ele que nos devemos entreter se desejamos experimentar os mais intensos gozos da vida. Inveje-me, senhor, inveje-me: sou um grande cobarde!»"


Robert Louis Stevenson, O Clube dos Suicidas, trad. Cabral do Nascimento, Lisboa: Vega, s.d., p. 27. 

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