Tuesday, September 30, 2014
RESTOS DE UM SACRIFÍCIO
"Para quem assim se deslocou para o exterior
partir deixou de ser necessário já que as aves,
nas asas, transportam consigo os rudimentos
da paisagem em que depois ardem, lavadas
pelas sombras do crepúsculo. Cabe aos corvos
o sacrifício da noite, o degelo das palavras,
de que depois compõem o manto de folhas
que arrastam pelo sepulcro. São eles que,
com as garras, nos resguardam das passagens
que nos poderiam conduzir de novo ao vazio.
Pode-se contudo afirmar que nas suas cinzas
são ainda perceptíveis os perfis com que
os poemas nos desenham no rosto o apelo
do futuro? As palavras substituem-se
umas às outras mas, na sua queda,
o tempo que se desprende é o do absoluto."
Fernando Guerreiro, Outono, Lisboa: Black Sun, 1998, p. 39.
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