"Voltou a tomar cocaína?
Um dia
hei-de tomar um quilo de platina
quando sigo o teu caminho.
Compro! Vendo!
O meu clube
cabeça de jovem milionário
alguns milhões entrando o Avenida
Palace.
Boa-noite Senhor Hull!
Sem dinheiro sem crisântemos a
juventude pouco vale.
O ás de ouros
traz as datas de fevereiro
pétalas de alegria.
Porque não jogas?
O espelho leva a outro espelho.
Fiquemo-nos por aqui
pelas horas da vida
levando a senha noite fora «Mirabeau»
«Diderot» «Rousseau» essa gente.
Os espíritos surgem
são o destino dos homens e
a traição o jogo do lugar.
A vontade. Os relógios.
Um jardim de outras aves.
O relógio entre fumos e irmãos de arte
é o corpo a meio da cidade.
Não há capicua para esta sorte.
A morte resolve ainda menos.
O teu rosto
ao próprio rosto
ao espelho do teu rosto eu quero dar.
Era uma noite."
João Miguel Fernandes Jorge, "Actus Tragicus", in Obra Poética, vol. 4, 2ª ed., Lisboa: Editorial Presença, 1991, p. 96.
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