ANIVERSÁRIO
"Lembram botões eléctricos teus olhos.
Chego os dedos a eles e carrego.
Acendem-se de imagens. Fico cego...
Sinto que as coisas morrem nos teus olhos.
Há entre mim e a Noite um reposteiro.
Pressinto-o no meu vê-lo. Ânsia perdida...
Eu próprio às vezes julgo ser ponteiro
No relógio que marca a minha Vida.
E vejo a minha infância ser de seda.
Ando com ela ao colo pla alameda.
É um eco de mim em idas naves...
Cai-me na cor do Outrora cinza preta.
E sinto e meu Passado na gaveta
Da cómoda a que alguém perdeu as chaves."
Alfredo Guisado, Tempo de Orfeu, Coimbra: Angelus Novus, 2003. p. 151.
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