Thursday, July 14, 2016

FLORA



"Sabíamos que ela própria pintava aguarelas de flores, e a minha avó, que ouvira gabar-lhas, falou-lhe delas. A senhora de Villeparisis mudou de conversa por modéstia, mas sem mostrar mais admiração ou prazer que uma artista suficientemente conhecida a quem as felicitações nada trazem de novo. Limitou-se a dizer que era um passatempo encantador, porque, se as flores nascidas do pincel não eram famosas, pelo menos pintá-las fazia-nos viver em contacto com as flores naturais, de cuja beleza, sobretudo quando somos obrigados a vê-las mais de perto para as imitarmos, nunca nos cansamos."


Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido - À Sombra das Raparigas em Flor, trad. Pedro Tamen, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 250. 

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