Sunday, April 30, 2017

REGRESSAR (para A.)



"Como pó de planura e ruas de Alentejo
ruínas e mosaicos pela sombra crua. 
Paguei para que as luzes se acendessem
em San Vitale e Teodora viesse
oposta a Justiniano abrindo os olhos
de faraós do Egipto. Os batistérios, 
os dois Apolinários e no azul geométrico
Gala Placídia dorme de romano fim
como Teodorico de ostrogodo a morte. 
Tudo isto é só por dentro ou luz do dia
ou luzes que se pagam de acordá-los. 
E o Dante dorme e perto dele o Byron
passou como Sodoma sobre o império extinto. 
Não luz se acende para vê-los - Dante
de Itália teve abrigo especial
contra os bombardeamentos da Segunda Guerra
(um belo pensamento): mais inda será
menos que pó com tantos italianos
acomentendo pelo mundo uma lectura Dantis?
E Byron - isles of Greece, o isles of Greece - 
memória só (como poesia sempre)
do amor que o rosto amado por amor não vê."

Jorge de Sena, "Exorcismos", in Poesia - III, Lisboa: Edições 70, 1989, p. 157. 

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