"Consolava Manon pelo caminho, mas cá dentro sentia desânimo no coração. Matar-me-ia mil vezes se não tivesse nos braços o único ser que me prendia à vida. Era o único pensamento a amparar-me.
- Ao menos é minha - dizia eu - ama-me, pertence-me. Por mais que Tiberge diga, não é um fantasma de ventura. Veria morrer todo o universo sem me importar, porquê? Porque não tenho o afecto mais alto.
Este sentimento era verdadeiro, todavia, no tempo em que fazia bem pouco caso dos bens deste mundo, sentia ter ao menos precisão de uma pequena parte para desprezar ainda com mais altivez tudo o mais. O amor é mais forte que a fartura, mais forte que os tesoiros e as riquezas, mas tem necessidade do seu auxílio, e nada desespera mais um amante sensível do que ser por ele levado contra a vontade, à grosseria das almas vis."
Abade Prévost, Manon Lescaut, trad. João Barreira, Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p. 73.
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