"-Toda a vida tinha pensado - disse, e apontava um ponto impreciso na distância; na realidade pretendia abarcar com um gesto até ao horizonte tudo quanto a lua iluminava - que isto que vemos tinha sido sempre assim, precisamente como agora o vemos, que tudo isto era o resultado de uns ciclos naturais inalteráveis e umas mudanças de estação que vêm regularmente de ano a ano. Demorei muitos anos a dar-me conta de quanto estava enganado: agora sei que até o último palmo destes campos e destes bosques foi trabalhado a pá e picareta hora após hora e mês após mês; que os meus pais e antes os meus avós e os meus bisavós, que não cheguei a conhecer, e outros e outros inclusivamente antes de eles nascerem andaram a guerrear com a Natureza para que nós agora e eles antes pudéssemos viver aqui. A Natureza não é sábia como dizem, mas sim estúpida e bronca e sobretudo cruel."
Eduardo Mendoza, A Cidade dos Prodígios, trad. José Teixeira de Aguiar, Lisboa: Publicações Dom Quixote/RBA Editores, 1994, p. 163.
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