"O contraste entre imagem e signo, que na iconoclastia, tal como na polémica teológica, se tornara um tema fulcral, teve consequências que foram muito além da troca de estocadas com conceitos. Consistem elas em que as imagens se referiam, habitualmente, aos corpos e que os corpos culminavam nos rostos. Nas imagens, o observador sentia-se olhado pelos rostos que nelas estavam representados. Esta experiência aludia à questão da realidade da imagem, e justamente enquanto objeto de uma perceção sensível que, na imagem, tão facilmente era superada ou levada ao limite. Nas imagens, miravam-se outros rostos, que reciprocavam o olhar. O semblante era o escândalo das imagens (e o triunfo do ícone) porque, diferentemente das imagens narrativas de caráter instrutivo, sugeria um encontro face a face que se tornou suspeito à religião."
Hans Belting, A verdadeira imagem, trad. Artur Morão, Porto: Dafne Editora, 2011, p. 178.
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