"Não há montanhas se não há palavras.
Não foge a bala se não há um espaço.
Não sobe o céu se não houver distâncias.
Não cabe o túnel se nunca estão paredes.
Correrem dias todos nós sabemos
serem serenos de punhais no meio;
mas sem montanhas nunca pode haver
um certo dia, grande nos foi dado.
O que esperámos era a Morte Larga,
o que pedimos era só um Homem,
madeira e ferro que soubemos dar.
Tudo existiu para que ele o desse,
tudo existiu para que ele caia.
Não há montanhas se não há palavras."
Pedro Tamen, "O Sangue, a Água e o Vinho", in Tábua das Matérias - Poesia 1956/1991, Lisboa: Tertúlia, 1991, p. 54.
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