Saturday, May 5, 2018

EM CASA


"Em casa faço aquilo que inda sei fazer:
Largar as águas em em seguida a jarra de encher;
Mas não há toalha e fica a água derramada. 

Não é tarefa de homem isso, me diz ela, 
E eu sinto-me sem jeito e até mo levo a mal, 
Ao ver pagar co'as maravilhas da panela
O modo aselha que é o meu habitual. 

E não me canso de louvar a Quem se alarga
Em luz do mundo, em artes e em saber:

Sempre que a malga das papas ela me traga, 
E eu veja as pontas dos dedos dela a fender, 

sinto uma mesma, uma única adoração
por Bach, o Sol e Kant e os calos dessa mão."


J. A. Dèr Mouw, "Sou Bramanista. Mas estamos sem criada", in Uma Migalha na Saia do Universo - antologia da Poesia Neerlandesa do Século XX, seleç. Gerrit Komrij, trad. Fernando Venâncio, Lisboa: Assírio & Alvim, 1996, p. 29. 

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