"Os sons, tal como os pensamentos, estão relacionados uns com os outros e também com aquilo que representam, e tem-se verificado sempre que uma percepção da ordem destas relações está ligada à percepção da ordem das relações do pensamento. Esta é a razão por que a linguagem dos poetas tem sempre assumido uma certa repetição, uniforme e harmoniosa, de som, sem o que não seria poesia e que pouco menos indispensável é à comunicação da sua influência do que as próprias palavras independentes dessa ordem peculiar. Daí a futilidade da tradução: seria tão sensato lançar uma violeta num cadinho para lhe descobrir o princípio formal da cor e do aroma, como procurar transvasar de uma língua para outra as criações de um poeta. A planta deve brotar de novo da semente ou não dará flor - eis o peso da maldição de Babel."
P. B. Shelley, "Defesa da Poesia", in Poética Romântica Inglesa, org. e trad. Alcinda Pinheiro de Sousa e João Ferreira Duarte, Lisboa: apáginastantas, 1985, p. 131.
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