Wednesday, August 11, 2010

DO DESESPERO

"Assim como talvez não haja, dizem os médicos, ninguém completamente são, também se poderia dizer, conhecendo bem os homens, que nem um só existe que seja isento de desespero, que não tenha, lá no fundo, uma inquietação, uma perturbação, uma desarmonia, um receio de que não se sabe o quê desconhecido ou que ele nem ousa conhecer, receio duma eventualidade exterior ou receio de si mesmo; tal como os médicos dizem duma doença, o homem transporta no espírito, em estado latente, uma enfermidade, cuja presença interna, raros relâmpagos de um medo inexplicável se revelam. E de qualquer maneira, jamais alguém viveu ou vive fora da cristandade sem desespero, como ninguém na cristandade sem ele viverá, se não for um verdadeiro cristão; pois que, a menos que o seja integralmente, nele subsiste sempre um grão de desespero."


Sören Kierkegaard, Desespero - A Doença Mortal, trad. Ana Keil, Porto: Rés- Editora, 2003, p. 31.

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