"O problema, hoje, é que tudo o que dizemos tem um duplo sentido. A inocência acabou. Somos o que dizemos; mas o que dizemos está para além de nós, nesse magma de significados que nos arrasta, como as enxurradas, e onde temos de procurar uma outra palavra a que nos agarrarmos, como tábua de salvação. «Escolheste a angústia?», perguntou-me ela. Não, disse-lhe. preferi a luta de classes, o dogma, a revolução. Mas o que estava colado a tudo isso era a angústia. Via-me ser arrastado por entre destroços do que sobrara da utopia; e apesar de tudo, algo sobrevivia desse mundo que o tempo submergira no seu curso irreversível."
Nuno Júdice, O Anjo da Tempestade, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2004, p. 170.
No comments:
Post a Comment