"Por isso é que, muitas vezes, o nosso astronauta sem escafandro vai recorrendo a provisórias injecções de oxigénio: a citação. E vemos que muitos desses textos se enchem com esses balões retirados de leituras avulsas, cuja única função, para além de encher o espaço de página que, fraudulentamente, eles ocupam com o alheio, é conferir seriedade a discursos que revelam uma total ausência de capacidade em assumir ideias próprias. É certo que tudo isto tem o álibi de certas teorizações ultravanguardistas, indo buscar conceitos como o «vazio», o «débil», o «enamoramento», nascido nalgum baldio vizinho das termas de Caracala, que fizeram sucesso antes de terem aparecido no mercado o Prozac e o Viagra. Assim, cegamente apaixonados pelo discurso do outro (que também é outra das fórmulas postas em voga pelo vácuo dos estudos culturais), vão-nos sugando às escondidas, como aquele vampiro plebeu do filme de Polanski ia chupando o sangue à rapariga guardada para o conde Drácula, até todos vermos que, afinal, o corpo teórico que os alimentou está exangue."
Nuno Júdice, ABC da Crítica, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2010, pp. 71-72.
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