"E agora descem de novo as trevas, e prouvera a Deus que pudessem ser ainda mais densas! Pudessem - quase nos atreveríamos a exclamar - ser tão densas que nada víssemos através da sua opacidade! Pudéssemos aqui pegar na caneta e rematar com a palavra Finis a nossa obra! Pudéssemos poupar o leitor ao que está para vir e dizer-lhe simplesmente que Orlando morreu e foi a enterrar. Mas aqui, ai de nós!, Verdade, Franqueza e Honestidade, as austeras deusas que velam e guardam o tinteiro do biógrafo, gritam: Não! Levando aos lábios as suas trombetas de prata, exigem num clamor: a Verdade! E de novo gritam: Verdade!, e pela terceira vez soando de concerto, ribombam: a Verdade e só a Verdade!
Perante isto - o Céu seja louvado por assim nos dar tempo para respirar! - as portas abrem-se de mansinho, como se um sopro do mais suave e sagrado zéfiro as apartasse, e entram três figuras."
Virginia Woolf, Orlando, uma biografia, trad. Ana Luísa Faria, Lisboa. Relógio D'Água, 1994, p. 101.
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