"À corte do Rei Artur veio um mancebo grande de corpo, e vinha ricamente ataviado, e desejou ser armado cavaleiro do rei; mas o gibão assentava-lhe de maneira mui mal ajustada, embora fosse feito de rico pano de ouro.
«Qual o vosso nome?», disse o Rei Artur.
«Senhor», disse ele, «o meu nome é Breunor le Noire, e daqui a pouco tempo sabereis que sou de boa linhagem.»
«Bem pode ser», disse Sir Kay, o Senescal, «mas por mofa sereis chamado La Cote Mal Taile, que o mesmo é dizer a copa mal talhada.»
«É grande coisa isso que pedes», disse o rei. «E qual a causa de trajares esse rico gibão? Diz-me, pois penso que por certo por alguma causa é.»
«Senhor», respondeu ele, «eu tinha um pai, um nobre cavaleiro, e de uma vez em que andava a montear aconteceu que um dia se deixou dormir; e veio um cavaleiro que de há muito tempo era seu inimigo, e que ao vê-lo tão profundamente adormecido todo o talhou e retalhou; e este mesmo gibão era o que meu pai trajava dessa mesma vez; e é por isso que este gibão me assenta tão mal, pois está como o achei, ainda com os rasgões das cutiladas, que eu nunca emendei. E para guardar na lembrança a morte de meu pai, uso e usarei este gibão até que o haja vingado; e tendes a fama de ser o rei mais nobre deste mundo, venho até vós para que me armeis cavaleiro.»"
Thomas Malory, A Morte de Artur, vol. II, trad. José Domingos Morais, Lisboa: Assírio & Alvim, 1992, p. 103.
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