Monday, September 6, 2010
TAKE ME AWAY FROM ALL THIS DEATH (COM HOMENAGEM A CASPAR DAVID FRIEDRICH)
"Sente-se a gente bem quando alguém chora.
Ouvindo soluçar a dor alheia,
A dor que as nossas almas alanceia
Dá-nos tréguas, apaga-se, minora.
Por isso eu vou às vezes pensativo
Escutar esses lúgubres lamentos
Que, inconsolável, bárbaro cativo,
O mar rouqueja esguedelhado aos ventos.
E o choro largo, lento e lamentoso
Dos meus desejos desgrenhados, loucos,
Vai-se calando, adormecendo aos poucos,
Ao soluçar do eterno desditoso.
Sim! a minh' alma cala-se e adormece
Olhando as vagas - corações a arfar -
- Não que me punja, não que me atravesse
O peito a dor intérmina do mar;
Mas porque, quando a Dor nos cinge ao colo,
Por um egoísmo lúgubre, altaneiro,
Sentimos sempre um íntimo consolo
Em acharmos na Dor um companheiro.
Ora uma vez que a Mágoa me açoutava
Como o vento do norte os arvoredos,
- Morria o sol, a escuridão tombava -
Fui-me assentar na crista dos rochedos.
O mar rugia indómito e selvagem
E o meu olhar errava distraído
Por sobre aquele espelho indefinido
Em que a minh' alma via a sua imagem.
E perguntei ao mar em cujo fundo
Se arrasam e se geram continentes,
Onde há riquezas de assombrar o mundo,
Porque chorava, rei dos Descontentes.
- «O que desejas mais? O que te faz
Andar chorando?» - E o mar em voz convulsa:
-«É que há em mim um coração que pulsa
E nada o coração nos satisfaz.» -
Rodrigo Solano, Fumo, ed. act., Penafiel: Câmara Municipal de Penafiel, 2010, pp. 70-71.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment