"GERMÁN - Está bem. Até está bastante bem. Se o que pretendes é que as pessoas se riam dos teus personagens. Mas isso é um objectivo baixo. A primeira pergunta que um escritor deve fazer a si próprio é: Para quem escrevo? Para quem é que tu escreves? É muito fácil pôr em destaque o pior de qualquer pessoa, para que os medíocres, sentindo-se superiores, se riam dela. É muito fácil pegar numa pessoa e vê-la pelo lado mais ridículo. O que é difícil é olhar para ela de perto, sem preconceitos, sem a condenar antecipadamente. Encontrar as suas razões, a sua ferida, as suas pequenas esperanças, o seu desespero. Mostrar a beleza da dor humana, isso só está ao alcance de um verdadeiro artista.
Entrega-lhe outro livro. CLÁUDIO afasta-se para ler e escrever.
JUANA - Não sei o que é que pretendes.
GERMÁN - Ensiná-lo.
JUANA - Ensinar-lhe o quê?
GERMÁN - Literatura. E, através da literatura, outras coisas.
JUANA - A literatura não ensina nada.
GERMÁN - Ah, não?
JUANA - "O Escrivão Bartleby". O tarado que matou o John Lennon levava-o no bolso. O que é que a literatura lhe ensinou?
GERMÁN - O assassino do Lennon levava "À Espera no Centeio".
JUANA - Tanto faz. O que importa é que a literatura não ensina nada. Não nos torna melhores.
GERMÁN - As tuas exposições são mais educativas. As pessoas saem de lá muito cultas. Se é que conseguem encontrar a saída.
JUANA - As minhas exposições também não educam. A arte, em geral, não ensina nada."
Juan Mayorga, O Rapaz da Última Fila, trad. António Gonçalves, Lisboa: Artistas Unidos/Cotovia, 2008, pp. 22-23.
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