"Teófilo leu em voz alta o «Decreto» de Teodósio I e penetrou no santuário, mandando dar a primeira machadada à sagrada estátua de Serápis. Os seus seguidores destruiram o grandioso santuário e acabaram com a estátua de Serápis, queimando tudo à sua passagem, estátuas e livros, em uníssono, todo o pensamento clássico e pagão. As estátuas de ouro foram fundidas ali mesmo, as de pedra reduzidas a pedaços que foram enterrados e a cabeça de Serápis, arrancada à machadada da sua maravilhosa estátua no coração do santuário, foi arrastada pelas ruas de Alexandria até ao porto, de onde foi atirada ao mar, perante os olhos horrorizados dos alexandrinos, estupefactos diante da profanação e destruição do seu lugar de culto mais sublime e sagrado.
As lutas estenderam por todo o recinto sagrado do Serapeum, iluminado pelo crepitar voraz das chamas, caindo alguns cristãos, como relatará mais tarde Eládio de Cesareia. Mas os cristãos estenderam a hecatombe por todos os cantos, derrubando colunas e muros, e matando todos os pagãos que encontravam à sua passagem. (...)
Para além da destruição do santuário e do saque de todos os seus tesouros, o fogo destruiu completamente a Biblioteca Filha, a mais antiga do mundo naqueles tempos, pois tinha durado quase seiscentos e cinquenta anos - mais do dobro do que a Grande Biblioteca, já desaparecida -, podendo conter naquela época centenas de milhares de rolos de papiros e livros em pergaminho, constituindo, assim, no extraordinário recipiente de todo o saber conhecido. Nada ficou, nem dos seus edifícios enegrecidos nem nos seus vastos subterrâneos, de toda aquela sabedoria."
Pablo de Jevenois, Biblioteca de Alexandria - o Enigma Revelado, trad. Cleto Saldanha, Lisboa: Ésquilo, 2009, pp. 102-103.
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