Monday, May 16, 2011

DA PÁTRIA


"A terra está uma pobre das estradas:
A noite ficou sem estrelas,
Toda consentimento
Ao lento germinar das pessoas caladas.
O céu gastou a face
De pura atenção ao mar,
E o mar redes e velas,
Seu sal e apartamento,
Como se agora anuísse e se entregasse.
Tudo baixou.
Um tom certamente agudo e amplo, um sinal dado,
Nunca mais foi ouvido;
E quem tinha, por exemplo, um amor ou um cuidado
Ganhou um nada
- Coisa de duas lágrimas
No seu olhar perdido.

A terra já nem vale as sementes que tem:
Deitou-se em cima delas
Com a força da aurora,
E nem chegou a amanhecer capazmente
Nos campos e nas janelas
Como a terra de outrora.

Nem sei o que a terra tem."

Vitorino Nemésio, "Eu, comovido a oeste", in Poesia (1935-1940), Lisboa: Livraria Bertrand, 1986, p. 214.

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