Albert Camus, Calígula, trad. Raul de Carvalho, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 162."CESÓNIA, apavorada
A felicidade é, portanto, essa liberdade espantosa?
CALÍGULA, apertando-lhe a pouco e pouco o pescoço
Podes ter a certeza, Cesónia. Sem ela, eu teria sido um homem satisfeito. Graças a ela conquistei a divina clarividência do solitário. (Exalta-se cada vez mais, estrangulando Cesónia a pouco e pouco, enquanto ela se abandona sem resistir, com as mãos abertas para a frente; e fala-lhe, debruçado sobre o ouvido.) Vivo, mato, exerço o poder delirante do destruidor, ao pé do qual o do criador parece uma macaquice. É isso ser feliz. É isso a felicidade, essa insuportável libertação, esse desprezo universal, o sangue, o ódio em meu redor, esse isolamento sem par do homem que põe toda a sua vida diante de si, a alegria desmedida do assassino impune, essa lógica implacável que rebenta as vidas humanas (ri), que te destrói, Cesónia, para perfazer, enfim, a solidão eterna que desejo."
Sunday, May 1, 2011
É ISSO, A FELICIDADE.
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