(museu arqueológico, Istambul)
Gore Vidal, Juliano, trad. Carlos Leite, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990, pp. 405-406."- Mas é tão simples. Dá ordem de marcha para sul. Têm de obedecer. Tu és o Imperador.- Teria sido o Imperador. Matavam-me primeiro.- Mas a própria Cibele disse-nos que tens de completar a tua obra. Afinal és Alexandre.Com estas palavras ferveu-me o sangue: - Não, não sou Alexandre. Alexandre morreu, sou Juliano. E estou quase a morrer neste maldito lugar...- Não. Não! Os deuses...- ... enganaram-nos! Os deuses riem-se de nós! Elevam-nos por desporto e derrubam-nos logo a seguir. Não há mais gratidão no céu do que na terra.- Juliano...- Dizes que eu nasci para grandes coisas. Muito bem, fi-las. Venci os Persas. Venci os Germanos. Salvei a Gália. Para quê? Para atrasar o fim deste mundo por um ano ou dois? Certamente que não vai durar mais tempo.- Nasceste para restaurar o culto dos verdadeiros deuses.- Então por que deixam que eu fracasse?- Ainda és Imperador!Apanhei uma mão-cheia de terra calcinada no chão da tenda. - Isto é tudo quanto me deixaram. Cinzas.- Viverás...- Estarei tão morto como Alexandre dentro de pouco tempo, mas quando me for levarei Roma comigo. Pois nada de bom virá a seguir. Os Godos e os galileus herdarão o Estado e, como abutres e vermes, transformarão o que está morto em ossos descarnados, até que não existe sequer a sombra dum deus sobre a terra."
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