Saturday, May 7, 2011

FRAQUEZA DO HOMEM


"Entretanto, cheio de ardor, lancei-me só no tormentoso oceano do mundo, do qual não conhecia nem os portos de abrigo nem os escolhos. Visitei primeiro os povos que já não existem. Fui instalar-me sobre as ruínas de Roma e da Grécia, países de forte e engenhosa memória, onde os palácios jazem sepultados no pó e os mausoléus dos reis ocultos por silvedos. Força da natureza e fraqueza do homem: uma haste de erva desloca muitas vezes e perfura o mais duro mármore desses túmulos que todos esses mortos tão poderosos jamais lograram levantar!
Por vezes, uma alta coluna mantinha-se isolada numa área desértica, tal como um poderoso pensamento germina de quando em quando numa alma que os anos e a desdita devastaram.
Reflectia sobre esses monumentos em todas as circunstâncias e a todas as horas do dia. Ora era o mesmo Sol que vira lançar os fundamentos dessas cidades e que se escondia agora perante os meus olhos, majestosamente, entre as suas ruínas, ora era a Lua que erguendo-se entre duas urnas cinerárias meio arruinadas me patenteava a visão dos seus pálidos túmulos. Muitas vezes, aos revérberos desse astro que despertara os sonhos, julguei ver o génio das recordações sentado pensativamente a meu lado.
Cansei-me, porém, de cavar nestas sepulturas, onde muitas vezes só lograva remover poeira criminosa."
René de Chateaubriand, René, trad. Vergílio Godinho, Lisboa: Editorial Verbo, 1972, pp. 96-97.

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