"Não há flores na campa do Narciso
não há flores na campa da Margarida porque morreu a florista
não há quem os regue com o sal das lágrimas
não há quem os lave com a água dos olhos
não há quem afaste os cardos com esse ancinho ancião que coçava as costas dos finados
a Rosinha morreu
a Rosinha morreu e a irmã mais velha chora de secura a sua lápide
o seu jazigo de suores frios
e todas as flores estão secas mortas salgadas
e nada podem fazer pelos mortos que estão moribundos
a florista morreu e o cemitério está vivo
os mortos levantam-se para consolar as flores"
João Negreiros, o cheiro da sombra das flores, 2ª edição, Porto: Papiro Editora, 2009, p. 45.
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