"Zierau - A verdadeira razão ensina-nos a ser felizes, a cobrir de flores o caminho à nossa frente.
O Príncipe - Só que as flores murcham e morrem.
Mestre Beza - Exactamente, exactamente.
Zierau - Aí, há que colher novas flores.
O Príncipe - Mas quando o solo já as não produz. Porque tudo depende dele.
Zierau - Perdemo-nos em alegorias.
O Príncipe - Que, contudo, são fáceis de decifrar. Ampliar o espírito e o coração, caro senhor...
Zierau - Quereis dizer não amar, não desfrutar do prazer.
O Príncipe - O desfrute e o amor são a única felicidade do mundo, só que tem que ser o nosso estado interior a dar-lhes a afinação.
Mestre Beza - Ai! O amor, o amor, uma religião muito pura que nos vai pejando os bordéis.
Zierau - Por mim, desejaria que pudéssemos começar por ensinar a juventude a amar, e em breve estariam vazios os bordéis.
O Príncipe - O que talvez só tornasse o mundo pior ainda. O amor é fogo, e sempre é melhor ateá-lo à palha do que às espigas de trigo. Enquanto não se tiverem tomado outras providências...
Zierau - Quando voltar a idade do ouro.
O Príncipe - Essa só existe na cabeça dos poetas, graças a Deus. Nem consigo imaginar como me sentiria em tal situação. Havíamos de estar para ali sentados como um Midas, olhando fixamente para tudo, incapazes de sentir qualquer prazer. A idade do ouro de nada nos servirá enquanto nós próprios não nos transformarmos também em ouro; e quando formos de ouro, então também poderemos fazer as pazes com os tempos de bronze e de chumbo."
Jakob Lenz, O Novo Menoza ou História do Príncipe Tandi de Cumba, trad. José Miranda Justo, Lisboa: Cotovia, 2001, 1º acto, cen.6, pp. 40-41.
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