Sunday, September 29, 2013

MIGUEL



"A nota de ferocidade do bailado deve ser dada tanto pelo Rei como pelo Anjo; mas o Rei dá-la-á aliada ao grotesco e à impotência; o Anjo à ironia e à sublimidade. Para o fim do bailado, o Anjo dominou completamente o Rei: ajoelhou-o a seus pés, e tem-lhe a garganta apertada nas mãos ambas. Trá-lo assim, de rastos, até à boca de cena. A música pára, não acabada mas inoportunamente interrompida. O Anjo tem o Rei a seus pés, aperta-lhe o pescoço nas mãos, e estão ambos de perfil para o público. O Anjo levanta a cabeça muito devagar, até ficar com ela inteiramente voltada para cima."


José Régio, "Jacob e o Anjo" (Prólogo), in Teatro, vol. I, Lisboa: IN-CM, 2005, p. 101. 

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