CILADA
"A fé que perdemos nestas ruas
não se recupera nem produz
as consequências da sua mais profunda
vocação. Antigamente não sabíamos
quase nada e ninguém ensombrava
o nosso sangue: o desamor era apenas
um motivo para dividir ao meio
o fundo calafrio de alguns versos.
Mas foi talvez o amor
que nos manteve juntos e unidos
nas montanhas. E quando a noite
encheu a boca de pedras, nós descemos
à cidade onde julgámos poder respirar
com mais proveito, outra imprevista
cilada da esperança."
Rui Pires Cabral, "Longe da Aldeia", in Morada, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 203.
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