"O mais célebre «homem bom» da nossa História é um «mestre particular das águas e das florestas», chamado Jean de la Fontaine. Assim o tinham apelidado os seus amigos Molière, Racine e Boileau. Segundo os cronistas, este nome fora-lhes ditado por uma mistura de ternura e irritação: era impossível manter uma conversa longa com ele. Subitamente, largava tudo e fechava a loja, desaparecia para terras longínquas, campestres e libertinas de onde nada, nem as músicas mais fortes, o faziam regressar. Esta ausência conferia-lhe um ar de tolo que desencadeava a troça. Relataram-nos mil ataques desta doença de aborrecimento a que chamam distração. Um dia, saiu de repente de um sonho onde o tinha levado uma palavrosa conferência de um teólogo sobre Santo Agostinho para perguntar ao orador se, francamente, não preferia Rabelais."
Érik Orsenna, O Jardineiro do Rei-Sol - Retrato de um Homem Feliz, trad. Alice Mattirolo e Cristina Castel-Branco, Lisboa: Livros Horizonte, 2003, pp. 105-106.
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