Monday, November 27, 2017

NO BOSQUE DE DIAZ


"Num bosque pintado por Diaz, mãe e filho estavam quietos. Encontravam-se possivelmente a uma hora da aldeia. Povos estranhos falavam uma língua primitiva. A mãe disse ao filho: «Acho que não te devia agarrar assim às minhas saias. Como se eu estivesse aqui o tempo todo só para ti. Menino imprudente, o que é que pensas? Pequenote, queres fazer com que os grandes estejam dependentes de ti. Ó, que irreflectido. É necessário que algum pensamento ente na tua cabecinha adormecida e para que isso aconteça deixo-te agora sozinho. Irás parar imediatamente de te agarrar a mim com as tuas mãozinhas, meu ingrato, maçador. Tenho razões para estar zangado contigo e acho mesmo que estou. Chegou a hora de falarmos a sério, senão serás toda a vida uma criança desamparada, para sempre dependente da mãe. Para que descubras o amor verdadeiro por mim, tens de estar entregue a ti próprio, tens de te dirigir a pessoas estranhas e servi-las. Irás ouvir somente palavras duras, durante um ano, dois anos e mais ainda. Só aí irás perceber o que signifiquei para ti. Se ficar sempre junto a ti, serei para ti uma desconhecida. Pois é, meu menino, não te esforças, não sabes sequer o que é o esforço, nem sequer o que é o afecto, ó meu ingrato. Teres-me sempre por perto torna-te verdadeiro preguiçoso no pensamento. Depois não pensas sequer minuto e é isso mesmo que é a preguiça de pensar. Deves trabalhar, meu menino, e acabarás por ser bem-sucedido, se quiseres terás mesmo de querer. Tão certo como eu estar aqui contigo no bosque de Diaz é o facto de teres de ganhar a tua vida de forma amarga, para que não embruteças interiormente. Muitas crianças tornam-se brutas por terem sido mimadas, por nunca terem aprendido a pensar, a serem gratas. Tornam-se senhoras e senhores somente belos e finos exteriormente, permanecendo interiormente egoístas. Para te salvaguardar da crueldade, para que não te entregues a fins disparatados, trato-te de uma forma dura, pois de uma educação demasiado cuidadosa nascem pessoas inconscientes e descuidadas.» Quando o menino ouviu estas palavras, abriu os olhos assustados, tremia, e as próprias filhas do bosque de Diaz tremiam, enquanto os troncos imponentes permaneciam firmes. A folhagem do chão rumorejava:«O que é descrito neste breve ensaio é aparentemente muito simples, mas há tempos em que tudo o que é simples e de fácil compreensão permanece totalmente alheio à razão humana e por isso só é compreendido com grande dificuldade.» Assim rumorejava a folhagem. A mãe partira. O filho estava ali sozinho. Cabia-lhe agora entregar-se à tarefa de se orientar no mundo, que é também um bosque, aprender a não se ter a si em grande conta, eliminar da sua alma todo o tipo de presunção, para que assim agrade."

Robert Walser, Histórias de imagens, trad. Pedro Sepúlveda, Lisboa: Cotovia, 2011, pp. 55; 57. 

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