Wednesday, December 20, 2017

NIMBUS


"Eu vi o Amor - mas nos seus braços baços
Nada sorria já: só fixo e lento
Morava agora ali um pensamento
De dos sem trégua e de íntimos cansaços. 

Pairava, como espectro, nos espaços, 
Todo envolto num nimbo pardacento...
Na atitude convulsa do tormento, 
Torcia e retorcia os magros braços...

E arrancava das asas destroçadas
A uma e uma as penas maculadas, 
Soltando a espaços um soluço fundo, 

Soluço de ódio e raiva impenitentes...
E do fantasma as lágrimas ardentes
Caíam lentamente sobre o mundo!"


Antero de Quental, Poesia Completa, org. Fernando Pinto do Amaral, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, pp. 292-293. 

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