Sunday, February 18, 2018

SOBRE AS ÁGUAS (para a memória de Teresa Belo)



"Morrer é uma coisa que se vê
O teu amor cresce como uma árvore
há vozes de desgosto na separação dos corpos
Eu canto árvores, animais herbívoros ou carnívoros
e centra-se na tarde e cerca-me completamente 
este crepúsculo esta hora de poetas
A noite entra depois pelas nossas janelas
e traz consigo pitagóricos gente que vive só pelos desertos
Eu porém vivo vou de cidade em cidade
Escrever-te é a maneira de te ter presente
deste satisfação a um amigo e companheiro 
pagaste a dívida de amizade e de fraternidade
Por confiar em ti nada perdi
é a ti que eu quero e não abraços teus
adeus mulher amada mundo meu
Eu digo eu canto e logo o mundo faz-se
ó ave vida momentânea sobre as águas"


Ruy Belo, "Enganos e desencontros" de Despeço-me da Terra da Alegria, in Antologia Poética, Lisboa: Círculo de Leitores, 1999, p. 219. 

2 comments:

Luís Palma Gomes said...

Muito bonito o extrato e a homenagem póstuma a uma grande mulher,

Lusios said...

De facto, Luís Palma Gomes; uma excelente pessoa, que a todos nos fará grande falta.